sexta-feira, 12 de junho de 2009

A poetiza da Alma-Cecília Meireles


Cecília Meireles nasceu no Rio, em 7 de novembro de 1901, mesma cidade em que morreu, a 9 de novembro de 1964. A menina foi criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides.

Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara
com desenhos de andar
dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia,
sombra de som curtindo seu próprio lamento
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e,
de outro, esquecimento.
MARINHA
O barco é negro sobre o azul.
Sobre o azul os peixes são negros.
Desenham malhas negras as redes,
sobre o azul.
Sobre o azul, os peixes são negros.
Negras são as vozes dos pescadores,
atirando-se palavras no azul.
É o último azul do mar e do céu.
A noite já vem, dos lados de Burma,toda negra,
molhada de azul:-
a noite que chega também do mar.
LEVEZA
Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,mais leve.
E a cascata aérea de sua garganta,
mais leve.
E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo instante,mais leve.
E a fuga invisível do amargo passante,mais leve.

Se Não Houvesse Montanhas
Se não houvesse montanhas!
Se não houvesse paredes!
Se o sonho tecesse malhase
os braços colhessem redes!
Se a noite e o dia passassem
como nuvens, sem cadeias,
e os instantes da memória
fossem vento nas areias!
Se não houvesse saudade,
solidão nem despedida...
Se a vida inteira não fosse,
além de breve, perdida!
Eu não tinha cavalo de asas,
que morreu sem ter pascigo
E em labirintos se movem
Os fantasmas que persigo.

Cecília Meireles

Mulher ao Espelho
Hoje, que seja esta ou aquela,pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal fez, essa cor fingidado meu cabelo,
e do meu rosto,se é tudo tinta:
o mundo, a vida,o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira ao nada,
não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,olhos,
braços e sonhos seus,e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,outros,
buscando-se no espelho.
Cecília Meireles
Canção quase Melancólica
meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

Cecília Meireles

Um comentário:

  1. Rachel tienes unos espacios muy cálidos, necesitaré un poco de tiempo para leerlos en profundidad e intentar hacer una traducción correcta de los textos ...

    Mil gracias por disfrutar conmigo de mis refugios silenciosos.
    Muchos besitos desde España.

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