domingo, 31 de maio de 2009

Poeta Jorge de Lima


SONETOS GÊMEOS
Se me vires inúmero, através
deste poema,
entre as coisas e as criaturas,
como se eu próprio fosse o que ontrem é,
dissipado nas páginas impuras,
arrebatado pelo próprio poema,
possesso, surpreendido, fragmentado,
travestido de herói ou de réu,
em quase todos os versos degredado,
negarás, meu irmão, a alma que vive
perdida na ansiedade de si mesma
sonhando a paz, querendo a paz;
a paz até na álgida paz da insânia
Deus me busca para ser o seu convulsivo
a amado filho em torno de quem crês
morar a paz que
Ele destina viva a todo aquele que lhe faz perguntas.
Eis as respostas nessas vozes gêmeas,
deblaterando sobre o seu defunto,
sobre seu louco, sobre o seu recente
corpo hoje inda nascido e já julga
doe já descido, e já movido nesses
campos da morte, sob os passos,
pássaros,aos ventos indo,
sob as noites gastas
passos sobre as caliças, sob os gestos,
sob as bocas sem choro, em seus nadas.





Machado de Assis


"Quando ela fala,parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala.



Meu coração dolorido
As suas magoas exala.
E volta ao gozo perdido
Quando ela fala.



Pudesse eu eternamente
Ao lado dela escutá-la
Ouvir sua voz inocente
Quando ela fala.

Minh´alma, já semi-morta
Conseguira ao céu alçá-la
Porque o céu se abre uma porta
Quando ela fala.


Mundo Interior



Ouso que a natureza é Uma lauda eterna
De pomba,de fulgor,de movimento e lida
Uma escala de luz, uma escala de vida
De sol a ínfima luzerna.

Ouço que a natureza, a natureza externa, tem o olhar que
namora, e um gesto que intimida,
Feiticeira que ceva uma hidra de Ler na
Entre às flores da bela Arminda.
E contudo, se fecho os olhos, e mergulho
Dentro em mim, vejo à luz de outro sol, outro abismo
Em que o mundo mais vasto, armado de outro orgulho
Rola a vida imortal e o eterno cataclismo
E, como outro, guarda em seu âmbito enorme
Um segredo que atrai, que desafia - e dorme."



Bailando no ar,gemia inquieto a vagalume
Quem me dera que fosse aquela loura estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela.
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:


Pudesse eu copiar a transparente lume
Que, da grega coluna à gótica janela
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume!"
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vagalume?"



Poeta Machado de Assis


A Queimada De Lêdo Ivo


"Queime tudo o que puder : as cartas de amor as contas telefônicas
o rol de roupas sujasas escrituras e certidõesas inconfidências dos confrades ressentidosa confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência e anuncia a arteriosclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.

Não deixe aos herdeiros esfaimadosnenhuma herança de papel.
Seja como os lobos :
more num covile só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.
Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.
Destrua os poemas inacabados,os rascunhos,as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.
Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.A verdade não pode ser dita".


Que me deixem Passar



" Eis o que peço
diante da porta ou diante do caminho.
E que ninguém me siga na passagem.
Não tenho companheiros de viagem
nem quero que ninguém fique ao meu lado.
Para passar,exijo estar sozinho,
somente de mim mesmo acompanhado.
Mas caso me proíbam de passar
por seu eu diferente ou indesejado
mesmo assim eu passarei.
Inventarei a porta e o caminho
e passarei sozinho".


As marcas de Infância de Maceió



"Na tarde de domingo,volto ao cemitério velho de Maceió
onde os meus mortos jamais terminam de morrer
de suas mortes tuberculosas e cancerosas
que atravessam as maresias e as constelações
com as suas tosses e gemidos e imprecações
e escarros escurose em silêncio os intimo a voltar a esta vida
em que desde a infância eles viviam lentamente
com a amargura dos dias longos colada às suas existências
monótonas. (...) Digo aos meus mortos :
Levantai-vos,voltai a este dia inacabado
que precisa de vós,de vossa tosse persistente e de vossos gestos enfada
dose de vossos passos nas ruas tortas de Maceió.
Retornai aos sonhos insípidose às janelas abertas sobre o mormaço.
Na tarde de domingo,entre os mausoléus
que parecem suspensos pelo ventono mar azul
o silêncio dos mortos me diz que eles não voltarão.
Não adianta chamá-los.
No lugar em que estão,não há retorno
Apenas nomes em lápides.
Apenas nomes.
E o barulho do mar".
AQUÍ ESTOY, A LA ESPERA DEL SILENCIO.

Ante el astillero podrido,
sólo vislumbro la astilla
que sobró de las iluminaciones
.……………………………
Mis ojos fatigados siguen la canoa
que se aleja de los manglares.
Una luz en la restinga.
Un cangrejo en el lodo.
Y la vida se evapora como las almasen
el cielo que no guarda ningún dios.
La eternidad pasa como el viento.
Sólo el tiempo es eterno.
Siempre estuve aquí
en medio de mi pueblo diezmado,
y mis manos prepararon más allá
de las dunasla dorada hoguera antropofágica
del asombroso festín.
Una noche de cenizassucede ahora al clamor y a la alegría.
El mar apaga todos los naufragiosy todo fuego se extingue,
todo fuego dorado.

Maceió, en el nordestino estado de Alagoas –uno de los sitios del Brasil del cual, según Lêdo Ivo, la gente menos emigra–, tiene en su poesía un doble significado de “lugar de permanencia y de evasión”. Como dice en Confissões, “los que quisieran partir tienen siempre, a sus disposición, los barcos y el viento del mar”. El mar es “emblema del viaje y de la aventura.” “Arriba y más allá de la calidad solar y de la luz del faro, en un territorio intocable, Maceió es, al mismo tiempo, puerto y puerta, permanencia y travesía, lugar de partida y de llegada, silencio y melodía (40-41).
De muy joven, el poeta se trasladó a Recife, de allí a Río de Janeiro, y fue siempre un viajero vocacional. De allí que en su poesía resuenen los nombres de ciudades lejanas –Londres, París, Ámsterdam, Bruselas Roma, Lisboa, Nueva York, Boston, Chicago, San Francisco, Nueva Orleans… Y en todas ellas el poeta vive sus aventuras interiores, que también lo crean y recrean. En Réquiem, las partidas celebradas son el símbolo de otra partida, que a la vez interroga por una llegada imposible:


Siempre amé lo que pasa: los taxis ocupados,
los pitos de los trenes,
las nubes desgarradasy las hojas arrastradas por el viento.
El granizo fustiga las pirámides de la muerte,

la puerta del burdel estalla en el bochorno.
Un poniente amarillo rodea el astillero
.…………………………………………
Y siempre amé el amor,
que es como las alcachofas,algo que se deshoja,
algo que esconde un verde corazón indeshojable
.………………………………………
Siempre amé escuchar los rumores del mundo:
el zumbido dorado de la abeja en el estiércol,
el día estrepitoso y el viento vagabundo.
Los barcos pitan.

Es hora de partir.
Toda puerta cerrada es un puerto pronto a ser abierto
por el viento triunfante que desgarra el océano.



Poeta Lêdo Ivo