domingo, 31 de maio de 2009

Poeta Jorge de Lima


SONETOS GÊMEOS
Se me vires inúmero, através
deste poema,
entre as coisas e as criaturas,
como se eu próprio fosse o que ontrem é,
dissipado nas páginas impuras,
arrebatado pelo próprio poema,
possesso, surpreendido, fragmentado,
travestido de herói ou de réu,
em quase todos os versos degredado,
negarás, meu irmão, a alma que vive
perdida na ansiedade de si mesma
sonhando a paz, querendo a paz;
a paz até na álgida paz da insânia
Deus me busca para ser o seu convulsivo
a amado filho em torno de quem crês
morar a paz que
Ele destina viva a todo aquele que lhe faz perguntas.
Eis as respostas nessas vozes gêmeas,
deblaterando sobre o seu defunto,
sobre seu louco, sobre o seu recente
corpo hoje inda nascido e já julga
doe já descido, e já movido nesses
campos da morte, sob os passos,
pássaros,aos ventos indo,
sob as noites gastas
passos sobre as caliças, sob os gestos,
sob as bocas sem choro, em seus nadas.





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